quarta-feira, 27 de abril de 2011

REALENGO II


Por Josué Mello Salgado

Eram oito horas da manhã de quinta-feira, dia sete de abril de 2011, quando o jovem de 23 anos Wellington Menezes de Oliveira entrou na sua ex-escola municipal “Tasso da Silveira”, em Realengo, no Rio de Janeiro, e atirou contra os alunos de duas classes, matando 12 crianças, a maioria meninas, e deixando outras 12 feridas, para em seguida suicidar-se após ser baleado por um policial.

O perfil espiritual do “atirador de Realengo” pode ser traçado a partir das correspondências deixadas: 1) Wellington valorizava a religiosidade – “eu dedico cada segundo da minha vida a Deus”; 2) Ele julgava a religiosidade dos outros – “meus pais, por não seguirem a religião com devoção sempre, desconfiam de mim”; 3) Ele valorizava a pureza e considerava-se puro – “não... usufruir dos prazeres passageiros do mundo”, “os impuros não poderão me tocar sem usar luvas”; 4) Ele cria em Deus – “preciso da visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura”; 5) Ele cria na oração e no poder da oração – “preciso que ele ore... pedindo o perdão de Deus pelo que eu fiz”, “faço todos os dias minha oração do meio-dia, que é a do reconhecimento a Deus... (e) as outras cinco, que são de dedicação a Deus”; 6) Ele cria e lia numa escritura sagrada – “umas quatro horas do dia passo lendo... o resto do tempo eu fico meditando no lido”; 7) Ele cria no perdão divino – “pedindo o perdão de Deus pelo que eu fiz”; 8) Ele cria na segunda vinda de Jesus – “para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte”; 9) Ele cria na vida eterna – “do sono da morte para a vida eterna”.

Embora Wellington fosse religioso, valorizasse a religião, “cresse” na oração, no perdão divino, na vinda de Jesus e se julgasse puro e quase todos os outros impuros, ele não era um genuíno seguidor, um discípulo de Jesus Cristo. Poderia ser um excelente membro de igreja, mas seria sempre um péssimo discípulo.

A história de Wellington nos faz perguntar: - Qual a nossa missão? - O que estamos fazendo aqui? - Que tipo de “crentes” somos nós e que tipo de discípulos estamos fazendo? A nossa missão é em primeiro lugar ser discípulo de Jesus. E ser discípulo de Jesus é também andar como Ele andou (1 João 2: 6). E, se Jesus veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância (João 10: 10), é de se concluir que o genuíno discípulo de Jesus seja um ferrenho defensor da vida, e um inimigo da morte e da “cultura da morte”.

Além disso, o genuíno discípulo de Jesus segue os Seus ensinos e aprende e apreende que não precisamos pegar em armas de fogo como Wellington; para sermos homicidas e adeptos da cultura da morte, nós matamos com as palavras não somente ditas a alguém, mas também ditas contra alguém (Mateus 5: 21-22, conf. Efésios 4: 29). Da boca do genuíno seguidor de Jesus só deve fluir louvor e glorificação do nome de Deus, edificação para os outros, e transmissão de palavras de graça.

A nossa missão é também fazer discípulos de Jesus, pois o discípulo deve gerar outros discípulos como fruto da sua natureza. Fazer discípulos de Jesus não é, contudo: a) fazer seguidores de nossas próprias ideias; b) aumentar o número de membros de igreja; c) trazer à igreja admiradores do pregador; d) conquistar admiradores de Jesus; e) conquistar adeptos para uma sociedade democrática ou um clube social. Bonhoeffer disse: “Quando Cristo chama um homem, ordena-lhe que vá e morra”. (Dietrich Bonhoeffer, “Se não morrer... fica só.” – Lisboa: Livraria Alegria, 1963). Um discípulo de Jesus não é alguém que mata, mas é alguém que morre (João 12: 24). O tipo de discípulo que precisamos fazer é: Ensinável.

Um discípulo genuíno de Jesus não pode resistir às transformações de sua natureza e caráter, que o próprio Deus quer promover, como o oleiro faz com o vaso de barro em suas mãos (Jeremias 18: 4). Um discípulo genuíno de Jesus não pode dizer: “eu sou assim e pronto”! Mas o discípulo que Deus quer é também: Obediente.

Ele guarda todas as ordens de Jesus. Ele não guarda só o que o agrada, mas guarda tudo o que agrada ao seu Senhor. Portanto, cônscios de nossa missão, de promoção de vida e vida abundante em Jesus, sejamos discípulos e façamos genuínos discípulos de Jesus.

(*) Pr. Josué Mello Salgado é Pastor Titular da Igreja Memorial Batista de Brasília.

Um comentário:

Lubiju Rio Designer disse...

Oi amigo, gostei da nova roupa do Blog, o assunto da postagem prefiro não comentar, me desculpe. bjosss.