terça-feira, 5 de abril de 2011

A PÓS-MODERNIDADE NA IGREJA


Carlito Paes *
O pensamento pós-moderno está esvaziando a religião formal. É real e crescente a rejeição à religião institucional, vivemos dias de alta para a espiritualidade e baixa na institucionalidade religiosa. A religião deixou a dimensão pública e restringiu-se à esfera privada. Na tentativa de se libertar de uma cultura religiosa com padrões, o indivíduo pós-moderno criou uma religiosidade interiorizada, subjetiva e sem culpa. Penso que o mundo nunca foi tão espiritual e as influências espirituais do oriente estão invadindo de maneira forte e reversível no ocidente.
Entendo que a versão evangélica da pós-modernidade seja o neo-pentecostalismo e seus ramos congêneres. Possui diversos traços de muita continuidade cultural com o catolicismo popular latino-americano. Continuidade que muitas vezes desemboca em sincretismo e no reforço de práticas e concepções corporativistas. Sei que há pessoas sinceras em todos os seguimentos, todavia estou fazendo uma análise e o levando a reflexão. O protestantismo, por sua vez, é a religião da escrita, da educação cívica e racional. Favorece uma cultura política democrática e promove uma pedagogia da vontade individual.
“Protestante” ou “protestantismo” é todo o conjunto de instituições religiosas surgidas em consequência da Reforma Religiosa do século XVI nas suas principais vertentes: luterana e a calvinista, e que procuram manter os princípios básicos protestantes da liberdade: a justificação pela fé, a “sola scriptura”. Confesso que não gosto muito dos rótulos, seja protestante, evangélico, batista... prefiro simplesmente cristão. Seguimos Jesus, só isto.
Hoje em dia é difícil incluir entre os protestantes alguns setores do pentecostalismo e, principalmente, do neo-pentecostalismo brasileiro. Esta é a opinião do Dr. Ricardo Mariano que analisou os modernos movimentos neo-pentecostais e segundo ele:

“O neo-pentecostalismo, o responsável pela “explosão protestante”, à medida que passa a formar sincretismos, a se autonomizar em relação à influência das matrizes religiosas norte-americanas, a promover sucessivas acomodações sociais, a abandonar práticas ascéticas e sectárias, a penetrar em novos e inusitados espaços sociais e a assumir o status de uma grande minoria religiosa, cada vez menos tende a representar uma ruptura com a cultura ambiente. Tende, pelo contrário, a mostrar-se menos distintivo, mais aculturado, mais vulnerável à antropofagia brasileira e, portanto, cada vez menos capaz de modificar a cultura que o acolheu e na qual vem se acomodando.
O neo-pentecostalismo, pelo contrário, provêm da cultura religiosa do catolicismo popular, corporativista e autoritário. É a religião da lábia, do engano e da corrupção. Ele favorece o analfabetismo bíblico. Esta nova religiosidade evangélica é um tipo de ocultismo, recheado de citações bíblicas. O neo-pentecostalismo há muito deixou de ser evangélico, tornando uma outra forma de expressão religiosa, distante do pensamento protestante e reformado. Uma das rupturas mais sérias do neo-pentecostalismo com o pensamento protestante, é o uso da Bíblia. No protestantismo a Bíblia é sua última autoridade, não a tradição ou personalidades importantes ou mesmo a experiência espiritual, enquanto que o neo-pentecostalismo enfatiza o uso mágico da Escritura. Para alguns neo-pentecostais, a Bíblia é mais um oráculo a ser consultado do que a única regra de fé e prática, que nos leva à ética, moral, justiça e bondade.”

Nossa tarefa apologética para esta era pós-moderna é restaurar a confiança na verdade e entregar o amor de Jesus sem parar com toda compaixão. A Bíblia continua sendo a Palavra de Deus. Ela é um documento inspirado da revelação divina, quer este ou aquele indivíduo receba ou não o seu testemunho. Devemos, pois, respeito e obediência à Bíblia, não por ser letra fixa e estática, mas porque, sob a orientação do Espírito Santo, essa letra é a Palavra viva do Deus vivo dirigida não só ao crente individual, mas à Igreja em geral.
Entendo que a fé cristã, é um movimento que fala de morte e vida, renúncia do ”eu” para assumir o viver em Cristo. Porque temos símbolos como cruz, batismo, eucaristia, que nos remete a uma vida de morte para o mundo, e vida para com Deus, sendo assim, o evangelho genuíno de Cristo não pode ser tratado como um objeto em liquidação e sim como um tesouro para transformação do mundo.

*Carlito Paes é pastor sênior da Primeira Igreja Batista em São José dos Campos.

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