segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Pão Velho

Vou contar um fato corriqueiro que inesperadamente me trouxe uma grande lição de vida. Era um fim de tarde de sábado. Eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garotinho com pouco mais de nove anos, dizendo:
- Dona! Tem pão velho?
Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança.
Olhei para aquele menino tão nostálgico e perguntei:
- Onde você mora?
- Depois do Zoológico. Respondeu.
- Bem longe, hein?
- É... mas tenho que pedir coisas para comer.
- Você está na escola?
- Não. Minha mãe não pode comprar material.
- Seu pai mora com vocês?
- Ele sumiu.
E o papo prosseguiu até que eu disse:
- Vou buscar o pão. Serve pão novo?
- Precisa não, dona. A senhora já conversou comigo, isso é mais que suficiente.
Essa resposta caiu em mim como um raio. Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e a falta de amor daquela criança, daquele menino de apenas nove anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga.
Caros amigos, quantas lições podemos tirar desta resposta:
"Precisa não, dona. A senhora já conversou comigo, isso é mais que suficiente."
Que poder mágico tem o gesto de falar e ouvir com amor!
Alguns anos se passaram e continuam pedindo "pão velho" em minha casa... e eu continuo dando "pão novo", mas procurando antes compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.
Este pão de amor não fica velho, porque é fabricado no coração de quem acredita Naquele que disse: "Eu sou o pão da vida".
Verifique quantas pessoas estão esperando uma só palavra sua...

Antônio Maia.

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